segunda-feira, 2 de março de 2009

pílula

conversei agora há pouco pelo telefone com a dani, uma efervescência boa de idéias compartilhadas e vontade de verter isto em cena.

vou colar aqui um pedaço do que escrevi pra o simpósio de curitiba, que tem a ver com o que falamos. se for chato o academiquês perdoem; noblesse oblige!

"Segundo Deleuze, o que define o Neo-Realismo é a utilização de situações puramente óticas que o caracterizam como “um cinema de videntes”, em lugar de um cinema de ação. Desta forma, os filmes neo-realistas realizam “inventários dos lugares” (DELEUZE, 1985:11), e os objetos e os meios assumem uma realidade material autônoma que os faz valer por eles mesmos. Assim, a descrição neo-realista ‘substitui’ o próprio objeto, de maneira que uma “estranha subjetividade invisível” (Deleuze, 1985) põe-se a atuar no regime de intercambialidade entre imaginário e real.

A distinção entre objetivo e subjetivo tende a perder importância, se diante da imagem, a situação ótica ou a descrição visual substituem a ação motora. Esta interdependência entre ótico e cenográfico é um ponto chave para nossa investigação. A cena constitui-se assim pela visão, não pela ação. O lugar passa a valer por si mesmo, o que cria tempos mortos e introduz uma visualidade da banalidade cotidiana, como observado no cinema de Antonioni por Deleuze (1985) e pela cineasta francesa Agnès Varda:

I don’t like telling stories but rather what takes place between the key moments of a story; that’s what Antonioni does with his "weak times". I’d like to deepen those moments where we expect nothing – moments that reveal themselves to be more touching than all the rest. Weak times, dead times; the important thing is ‘between acts’. (VARDA, s/d)

A utilização de espaços vazios, que absorvem os personagens e as ações, produz uma pressão do tempo e do espaço, criando uma cena aonde qualquer coisa pode acontecer. O diretor Peter Brook desenvolve esta questão em seu livro Empty Space (1986) colocando a pressão do tempo, do espaço e dos corpos como forças de criação."

Um comentário:

David F. Mendes disse...

Acho difícil ver Antonioni e os neo-realistas no mesmo quadro. O que Deleuze diz faz sentido, mas será? porque a forma como ele vê o neo-realismo despe os filmes neo-realista de uma dimensão que é difícil não chamar de (desculpe a falta de jargão!) "humanista". Parece-me loucamente formalista enxergar no neo-realismo os objetos/lugares antes de... yes, sorry: as histórias. Mini histórias, microscópicas, mas histórias. Em Antonioni, sim, claro. E há muito tempo eu penso que muitos dos melhores planos de Antonioni (e penso isso de Bressane tb) funcionariam melhor se fossem instalações, montados em loop dentro de um espaço feito para eles, e nos quais pudéssemos ficar quanto tempo desejássemos (pouco ou muitíssimo).