sexta-feira, 8 de maio de 2009

mais chaves, portas e buracos

sobre o hábito de ficar resistindo a começar alguma coisa que te exige, ficar rodeando um assunto, se ocupando de mil tarefas, inventando desculpas para não estar presente de fato, para não entrar dentro, não encarar o momento e suas demandas, como criança resistindo a dormir. Não querer interromper o "circuito sensório-motor", não precisar se ativar para uma nova percepção, não precisar investir, se envolver, dar trabalho aos neurônios, gastar energia para mudar de canal e se adptar a uma nova situação que demanda novas respostas, parar-olhar e se dar conta, ativar novos circuitos, pensar, se responsabilizar por novas tomadas de posição. Como se o sistema sensório-motor funcionasse na inércia, uma vez que começa fica difícil parar, uma vez que para, fica difícil começar...

Olhar o cotidiano a partir disso, desse encadeamento automático de tarefas, da rotina sensório-motora de gestos, falas e procedimentos que se sucedem sem que precisemos prestar muita atenção neles, e dos poucos momentos de pausa e percepção ampliada do presente, dos momentos de "experiência", para usar um termo Benjaminiaano, ou de "revelações", para voltar a Deleuze e seu "imagem-tempo".

Esta divagação me levou de volta a aula do Claudio Ulpiano comentando Deleuze. Dêem uma olhada nesta postagem? tá lá no começo, marcador "Deleuze". ela fala disso que falamos ontem, desta chave para nosso trabalho:
Essa palavra, revelação - (...): existe uma prática do homem que é rara, extraordinária, mas que em determinados momentos de sua vida revela alguma coisa? revela um amor, revela uma tristeza? e marca isso por um olhar, marca por um gesto, marca por uma palavra.

(Prestem atenção: a revelação puxa para ele criar a imagem-tempo.)

Nas práticas sociais, (...): o homem comum está preso a um mundo só, ele não consegue quebrar aquilo de jeito nenhum, ele vive ali em torno, supondo que aquilo é a essência da natureza. Sem saber que a natureza não tem essência: ela... cria a essência dela: a arte cria! O seu olho não vê qualquer coisa em qualquer tempo. E quem produz essas modificações são essas singularidades que produzem novos sistemas individuados.

Que gera a alteração de percepção, pois a percepção não se prolonga mais em ação. (...) a percepção é considerada uma prática do conhecimento. O homem percebe para conhecer. Essa tese aqui não é fundamentada nisso. O que se diz aqui é que percebe-se para reagir, não é para conhecer. A percepção não é uma atividade do epistemológico, é uma resposta que você dá ao mundo - é a tese do Bergson. Você percebe para prolongar sua percepção em ação ou reação. Se não quebrar de dentro isso daqui, você nunca sairá do realismo. Permanecerá eternamente preso a essa situação que está aí. A tese - assustadora! - é basicamente que a conquista do tempo produz uma nova subjetividade. (...) Conquistar o tempo, liberar o tempo do movimento - está associado à produção da subjetividade - que é a mesma coisa que produção da liberdade, produção da vida!

que tal se cada um escrevesse um pouco sobre o que e como percebe isso? Paulo tinha falado da economia de esforços, do risco do colapso pelo excesso, da construção de rituais cotidianos; Laura falou do rodear, do ficar na borda, e tb de quebrar rituais cotidianos; eu falei dos mapas neurais que construimos dos rituais cotidianos e da idéia que envelhecer é apegar-se demais aos mapas já conhecidos....

algumas perguntas eu acharia legal a gente tentar responder nestas 2 semanas
como estas idéias se conectam com o que temos feito nos ensaios?
já que abordamos a vida de todos os dias, coisa tão próxima de todos, como as experiências particulares de cada um na sua vida, seu cotidiano, irrigam e habitam nossa cena?

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